
Eu desde sempre cometo uma série de erros de digitação. O motivo é bem simples: eu digito super rápido e uso só os meus indicadores. Já me disseram que "não é a forma certa de digitar", mas fazem 20 anos que eu tenho esse costume, então eu não poderia estar mais despreocupada.
Óbvio, no entanto, que digitar com dois dedos, superrápido e sem nem olhar para o teclado me garante uma série de pequenos erros. Nada grave, na pior hipótese uma palavra inocente vira uma genitália e podemos todos rir disso.
Mas o que me chamou a atenção nos últimos anos (e eu estou falando, tipo, dos últimos 7 ou 8 anos) é que eu parei de corrigir os meus erros quando converso com alguém. Aprendi a revisar publicações em redes sociais, no blog, e textos sérios são revisados mil e uma vezes - mas se eu estou numa conversa descontraída, eu deixo pra lá. Se o sentido não foi prejudicado, se faltou letra ou escapou um plural selvagem no meio da frase, pouco importa. O destinatário lá leu, e se já respondeu, entendeu o que eu queria dizer sem problemas.
Eu não me incomodo mais com os erros de digitação. Todo mundo comete, todo mundo tira boas risadas quando uma palavra ordinária se transforma em algo maluco, quando seus progenitores se transformam em partes do corpo ou em pedaços de maneira. Ninguém está preocupado com essas coisas.
Seria bom, no entanto, se eu pudesse transferir essa tranquilidade toda para outros erros. Que outras pequenas confusões, esquecimentos e deslizes fossem perdoados e transformados em piada com a mesma facilidade. A gente precisa parar de buscar, tentar alcançar e exigir uma perfeição que é tão desumana - nem mesmo o corretor do celular acerta o tempo todo, porque nós precisamos nos eximir das falhas? Nem todo erro é catastrófico, nem toda frustração é irremediável e nem sempre a gente precisa acertar. A gente erra. E errar é parte do processo.
Eu suponho que a vida seria muito, muito mais leve se a gente aceitasse isso com o mesmo humor e riso que aceitamos as frases malucas que o corretor automático cria nas nossas mensagens. A vida seria bem mais leve se todo erro, tropeço e constrangimento fosse superado tão rápido quanto os arranhões que fazíamos nos nossos joelhos quando crianças. A vida seria mais leve se a gente encarasse ela com mais leveza, com menos exigência, menos julgamento no nosso olhar.
Seria bom se houvesse um mundo onde os outros erros fossem como os erros de digitação - quando não ignorados, motivos de riso -, e se essas pequenas falhas, tão humanas, caíssem no esquecimento como tantas outras lembranças que se perdem no caminho.
Porque os erros, constrangimentos, arrependimentos, pesam. E se conseguisse escolher, eu preferia carregar comigo só os sorrisos e momentos bons.
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