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Vai, 2020

Esses dias uma amiga comentou comigo sobre uma postagem em alguma rede social, sobre como alguns de nós tivemos anos, de longe, muito piores que 2020.
Em 2017, eu perdi meu pai.
Em 2018, eu vivi um ano inteiro de luto e saudade.
Em 2019, eu sobrevivi a mais uma das minhas tentativas suicidas.
Em 2020 eu fiquei na minha casa vendo os dias passarem.

Pra mim, o que me magoou em 2020 foi ver as pessoas perdendo. A vida, a saúde mental, os espaços, os amigos, os familiares. 2020 foi um ano de perdas - mas pra alguém como eu, que vem lidando com a perda há tanto tempo, foi só mais um ano. Em 2020 eu tive saúde mental, eu criei coisas, eu retomei meus antigos hobbies que há tantos e tantos anos eu tinha deixado de lado. Em 2020 eu me aproximei de muitas pessoas, pessoas tão queridas agora, nesse momento, com quem eu venho falando diariamente e fazendo planos. Em 2020 me afastei de pessoas que vinham me magoando, me fazendo questionar se eu realmente queria estar ao lado delas. Em 2020, eu desejava ter um pouco de tranquilidade, de paz e leveza. E por ser a pessoa privilegiada que eu sou, eu tive.
Eu larguei um emprego que me fazia mal; tive tempo de fazer todas as minhas refeições com saúde e responsabilidade, cuidando do meu corpo como não pude nos últimos tempos que se passaram. Conversei muito com minha mãe, e pudemos nos abrir uma pra outra sobre uma série de coisas que a gente vinha carregando no peito, que vinham pesando na gente. Voltei a me aproximar do meu irmão, e passamos mais tempo conversando e trocando idéias, como fazíamos antigamente.
Esse ano foi cruel com muitas pessoas, e não serei eu a sem noção que vai fazer o discurso da espiritualidade, das good vibes e do "aprender a valorizar as coisas simples da vida". Mas foi a primeira vez em anos em que eu não quis morrer todos os dias; a primeira vez em anos em que eu não amaldiçoei a mim mesma quando acordei e vi o sol; foi a primeira vez em anos que eu me senti bem comigo mesma na medida do possível. Tenho saudade das amigas mais próximas, de passar na casa da minha avó paterna pra ver como ela está e fiquei frustrada por não poder investir mais tempo e energia na minha vida profissional. Mas eu sobrevivi, e essa é sempre a minha maior vitória.
2020 não foi o melhor ano da minha vida, mas 2020 me trouxe a pausa que eu tanto precisava. Sou grata pelas minhas escolhas, pela minha família, pelo meu planejamento, pelo meu emprego, e por tudo o que me permitiu passar por essa pandemia em segurança. Me sinto imensamente desolada ao pensar em quantas pessoas vão passar esse réveillon no hospital, sozinhas ou chorando suas perdas. Me sinto imensamente revoltada, com ódio e raiva mesmo, das pessoas que estão fazendo festas e se aglomerando por aí, desrespeitando sem um pingo de vergonha a dor daqueles que perderam as pessoas amadas nesse ano.
Mas sigo viva.
Contrariando todo o meu histórico, eu termino esse ano bem. Eu termino esse ano viva, com vontade de viver e de fazer algo por mim mesma.
De 2021 eu não espero nada. 2021 vai ser mais um ano dentro de casa, vendo a vida pela janela, tomando as mesmas precauções. 2021 é mais uma página no calendário, mas um dia na agenda, mais 300 e tantos dias dando o meu melhor pra sobreviver.
Se é uma era nova, uma etapa ou um recomeço, pouco me importa. 2021 pra mim é o meu vigésimo oitavo ano de vida, e eu vou seguir vivendo a minha vidinha mundana - cabe a mim se vai ter mudança, se vai ter felicidade, se vai ter esperança.
Tchau, 2020. Vai, que eu vou ficar mais um pouco!

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Written by Shana | 31 de dezembro de 2020 | 4 Comentários | link to this post



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