É bem dasgastante você passar por uma situação na qual você sabe que não está totalmente errada, na qual você pode apontar situações e pequenas falhas que corroboraram para certos resultados, mas todos à sua volta dizem que "é assim mesmo, você chegou agora, você precisa se adaptar".
Ao longo de toda a minha carreira eu me esforcei muito para que as minhas escolhas profissionais me trouxessem qualidade de vida. Qualidade de vida, pra mim, é não me sentir péssima comigo mesma o tempo todo. É não me sentir constantemente subestimada. É não me sentir como o estorvo, a errada, a incapaz, enquanto todos à minha volta aparentemente conseguem levar tudo com naturalidade. É foda ter que ouvir "não sou eu, é você" constantemente - e ter as suas inseguranças, preocupações e emoções constantemente invalidadas, como se o que você está sentindo, pensando e vivendo fosse completamente irrelevante - ou pior:
um surto. Uma fantasia criada só na sua cabeça, sem nenhum paralelo com a realidade.
Ainda na faculdade, vivi um momento de extrema movimentação política (detalhes da graduação em faculdade pública), e cheguei em um monte de estafa mental, medo, pavor de tudo o que era "tomar consciência". Eu não suportava mais viver num mundo injusto, violento, marginalizador, e o pior: que não não ia mudar. Eu abri meus olhos pra uma série de coisas e eu não sei se tinha capacidade de processar isso tudo.

O jeito foi encarar de frente. Ter pensamendo crítico, me posicionar nas minhas ações, fazer o meu melhor enquanto cidadã. Eu não tenho poder pra mudar o mundo, mas eu posso ter consciência das minhas escolhas e me manter firme no que acredito. Eu posso transformar o mundo com pequenas atidudes cotidianas - ao menos o meu micro-mundo, e o micro-espaço das pessoas à minha volta. E embora tenha trabalhado quase 3 anos recebendo quase nada, sem nenhum direito trabalhista, em condições extremamente questionáveis, eu podia deitar a cabeça no travesseiro e pensar: ao menos eu empoderei mais uma pessoa hoje. Chega de permitir essas alienações constantes do sistema.
Mas a consciência, de novo, me trouxe consequências. Não posso me queixar. Não posso questionar. Não posso me colocar. Não importa quantas vezes me digam que esse é o esperado, que eu "vim pra somar", que meus "apontamentos" são "relevantes", a grande verdade é que é mais fácil fechar os olhos, e
às vezes em terra de cego, quem tem olho é uma ameaça.
No mundo capitalista, qualidade de vida às vezes quer dizer dinheiro. E às vezes a gente precisa tirar força do fundo do poço pra sobreviver à certas experiências, porque a gente tem que se adaptar. Os boletos tão aí esperando pra ser pagos, né non?
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