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Sobre não ter mais tempo
Atenção: a postagem abaixo contém temas sensíveis, sobre saúde mental e suicídio
Tentei postar em setembro, em Outubro, em Novembro, em Dezembro e em Janeiro. Me planejei, fiz vários rascunhos, sentei pra escrever várias vezes e tive vontade, mas a verdade é que o último semestre de 2022 foi caótico num nível que eu nunca vivi antes - e eu não consigo sequer lembrar se eu consegui fazer alguma coisa rotineira que me fizesse feliz nesse tempo, o blog incluso.
Apesar disso, não é sem tempo de desejar um Feliz 2023 a todes que leem este blog, e a melhor forma de encerrar um ciclo e começar outro é sempre com uma boa faxina, não é mesmo? Fiz esse layout por cima da base do antigo (que ficou o ano inteiro no ar, um verdadeiro recorde pra mim) só pra trazer novos ares para o blog - e ele foi todo feito em uma noite de dezembro, na minha semana de folga, com a pretensão de uma atualização de final de ano. Uma Shana inocente que mal esperava o que vinha pela frente, risos.
Eu estava planejando essa mudança no blog, mas não tinha nenhuma inspiração específica porque não tenho lido, visto nem curtido nada nos últimos tempos - daí num belo dia eu estava lavando louça e ouvindo MOTS: 7 do BTS e tive um insight quando começou a tocar My Time, o solo do Jungkook (que é, inclusive, a trilha sonora do layout). Em alguns trechos ele fala sobre como não tem tempo pra dar atenção às pessoas à volta dele, e eu me identifico totalmente com a ideia. Mas enfim, né: tô aqui dizendo repetidas vezes que não tenho tempo, mas não esclareci muito o que rolou. Vamos por partes.
Agosto
Pouco depois da minha última postagem, fiz uma bateria de exames pra comprovar a então recém-descoberta SOP, e iniciei o tratamento nutricional. Assim que voltei de férias, no dia 16, cheguei no trabalho em meio a um completo caos, pois um aluno de uma das escolas que eu acompanho havia tirado a própria vida dentro do colégio. Não era um aluno do nosso instituto, mas 3 dos meus alunos estavam no local no momento do ocorrido, um deles a poucos metros da situação, e passei o mês numa força tarefa complexa tendando conter as consequências desse fato junto aos adolescentes que acompanho. Foi um mês atribulado, e acabei me arrependendo de tirar férias em Agosto - embora não tenha sido uma decisão totalmente minha, mas ainda assim, fui eu quem lidei com o caos no fim das contas.
Setembro
No início do mês eu acionei a imobiliária onde eu alugava o meu consutório, e comuniquei que faria a entrega do mesmo. Aluguei um galpão num serviço de self-storage e desmontei toda a sala - que ficou 2 anos parada e acabei nem usando. Concluí que eu nunca mais ia voltar para a clínica presencial, e estava tendo um gasto mensal que não compensava tanto. Depois de fazer o orçamento com o self-storage, entendi que era melhor guardar os móveis num espaço especializado do que pagar 1/3 do meu salário no aluguel de uma sala que eu sequer usei.
Dia 24 de Setembro eu estava almoçando com minha mãe, e começamos a falar sobre encontrar apartamentos ali na região - pois já fazia tempo que eu vinha pesquisando, pensando em morar mais próximo do metrô por causa da exaustão física que o trajeto até o trabalho vinha me causando. Minha mãe lembrou de anúncio que havíamos visto, e eu pontuei que não tinha curtido o valor - ela acabou ligando ainda assim pra tirar a dúvida e descobrimos que o apartamento vinha semi-mobiliado, com as contas todas inclusas no valor que vinha sendo divulgado. Acabamos agendando no mesmo momento uma visita, e foi assim que eu comecei o processo de sair da casa da minha mãe.
Depois da empolgação, eu vivi duas semanas repletas do mais completo estresse - problemas com a documentação, problemas com a seguradora, e eu ainda estava terminando de transportar os móveis do consultório e pintar a sala comercial. Um completo caos.
Outubro
Na primeira semana do mês, um dos meus alunos tentou o suicídio. A tentativa foi bem pública, várias pessoas foram acionadas, e em meio ao caos de tentar alugar um espaço e entregar outro, eu cheguei a passar um dia inteiro num pronto-socorro de saúde mental no centro de SP. Foi uma situação extremamente desgastante, porque era um aluno por quem eu tenho muito carinho e foi difícil me manter forte para ajudar ele e a mãe. No fim, essa situação foi cuidada da melhor forma, mas continuou reverberando até meados de Novembro.
Dia 10 de Outubro eu assinei o contrato do apartamento - que é uma kitnet de dois ambientes, com menos de 30m², mas que serve muito bem a uma mulher solteira que passa a maior parte do tempo fora de casa. No mesmo dia que fui buscar a chave do apartamento, entreguei a chave do consultório na imobiliária, e comecei a comprar os móveis que precisava pela internet. Eu já tinha algumas coisas reaproveitáveis do consutório, como mesas de cabeceira, lixeira, mancebo, e já tinha uma escrivaninha que comprei enquanto morava com minha mãe e seguiria servindo como espaço de trabalho e refeições. Estava tudo indo bem até aí.
No dia 22 de Outubro, eu me mudei da casa da minha mãe, e comecei a morar sozinha - agora em São Paulo, cerca de 10 min do metrô, de frente para a rua que eu morava na minha infância. Entre essa assinatura e essa mudança, eu estava coordenando minha equipe provisoriamente, pois nossa coordenadora havia tirado férias por 15 dias e me convidado para cobrir suas funções nesse período. No fim do mês, eu estava exausta, mas com a sensação de que as coisas estavam entrando nos eixos e que eu poderia enfim descansar.
Novembro
É aqui que começa A Saga do Mofo.
Em meados de Novembro, eu comecei a notar o surgimento de mofo nas paredes do apartamento - que é num prédio recém-construído, e por mais que eu mantivesse todas as janelas abertas, o mofo só se alastrava. Falei com o zelador do prédio, que me garantiu que era "um mofo comum, que dá em casa mesmo" - e sem saber que estava sendo enganada, tentei combater o problema com clofo e anti-mofo. O mesmo seguiu se alastrando por todo o apartamento, dos rodapés até o teto, e depois de cerca de 2 ou 3 semanas sem conseguir resolver, entrei em contato com a proprietária.
Foi nessa conversa que descobri que havia uma infecção por um fungo nos andares do térreo, e que os dois proprietários já sabiam e vinham tentando resolver com uma equipe especializada - a questão é que o zelador também sabia, e não comunicou nenhum dos dois. A dona foi super solícita, emprestou um apartamento vago para que eu guardasse meus pertences, e com menos de 1 mês da minha mudança, eu tive que desfazê-la e refazê-la novamente.
Apesar da exaustão, o apartamento foi tratado com um produto indicado por especialistas, e a pintura foi refeita com tinta anti-mofo.
Enquanto tudo isso acontecia, eu seguia acompanhando o aluno que havia tentado o suicídio em Outubro, mas na última semana do mês descobri que outro aluno meu estava pra repetir por faltas na escola, algo inadmissível no instituto. Quando eu e a escola procuramos a responsável, ela me contou aos prantos que o aluno vinha usando drogas há cerca de 3 anos, que ela escondeu o fato por medo de ele perder a bolsa de estudos, e estava totalmente ciente das consequências que a questão estava trazendo. Por fim descobri que as tais drogas eram maconha, que ele usava por meio da própria planta, sem aditivos, pra tentar dormir. Agilizei com minha equipe uma avaliação médica por suspeitar de depressão, e recebemos exatamente a devolutiva que eu esperava: depressão aguda, com indicação de tratamento farmacológico.
Foi um mês difícil, mas enfim, chegava o momento do meu merecido descanso.
Dezembro
Só que não.
Ao longo do mês de dezembro, comecei a encontrar mofo em alguns objetos pessoais e móveis. Imaginei que eles tivessem sido infectados durante o pesadelo que foram Outubro e Novembro, se segui higienizando minhas coisas com cloro e água sanitária.
O final do ano foi corrido, esqueci de comprar os presentes de natal e não consegui enviar meus tradicionais cartões natalinos pelo correio. Surgiram demandas não planejadas no trabalho, e um mês que normalmente era tranquilo, foi extremamente atribulado. Pensei que poderia cuidar do blog, organizar minha casa, dentre uma série de outras coisas, e tudo acabou sendo atropelado pela rotina caótica do instituto.
Janeiro
E foi nesse clima caótico que eu comecei 2023. Faltava organizar uma prateleira da minha mesa, e eu estava satisfeita por ter conseguido organizar tudo aos poucos. Até que encontrei um "pó" esverdeado nos itens da minha cozinha, e quando tirei a gaveta do gabinete pra limpar as coisas: mofo.
Havia mofo no móvel inteiro. Camadas e camadas, por toda a extensão da madeira. Enquanto limpava esse móvel, encontrei mofo na minha mesa, e num guarda-roupa que sequer estava no apartamento em Novembro, porque foi montado em dezembro.
Havia mofo em todos os meus móveis, e eles estavam estufados. Os móveis que eu higienizei voltaram a apresentar mofo. Havia mofo nas minhas roupas, nos meus eletrodomésticos, nas minhas fucking washi tapes. O mofo sumiu das paredes, mas tomou conta de literalmente todo o meu apartamento - e na tentativa de limpar tudo, tive uma intoxicação por gás de cloro, que pode ser fatal se inalado com frequência.
Eu tive um prejuízo de aproximadamente 3 mil reais. Quando me dei conta que até itens de valor sentimental estavam danificados, eu sentei no chão e chorei de soluçar - o que parecia a realização de um desejo e o início da minha independência tinha se tornado um pesadelo horrível e interminável, e a essa altura eu estava simplesmente exausta de tudo. Eu só queria desaparecer e desistir de todas as coisas que eu tinha que fazer - porque desde Agosto as coisas não paravam de dar errado, e eu não tinha um dia de descanso. Até os bons resultados do meu tratamento haviam se perdido - por causa das atribulações da rotina eu não conseguia mais comer direito, e o remédio que eu vinha tomando pra regular meus hormônios aumentou minha crises de enxaqueca, e precisei interromper o tratamento para não arriscar um AVC. Aboslutamente nada dava certo e eu só estava cansada.
Nessas primeiras semanas, eu ouvi repetidamente a música OO:OO (Zero O'Clock) do BTS, basicamente porque meu feed me indicou algumas montagens com a canção e de repente eu me via tentando pensar que esses dias iam acabar, e que talvez eu conseguisse resolver as coisas mais tarde. Acabou não sendo tão fácil, mas eu de fato consegui solicionar o problema - embora, de novo, não sem muito caos e exaustão, porque eu precisei me mudar pela terceira vez em 4 meses.


Nos dias 21 e 22 de Janeiro eu me mudei para outro apartamento, no mesmo prédio, um andar acima. Era o único que tinha um layout similar ao meu, e os móveis que eu tinha caberiam sem problemas. O proprietário foi super solícito, me deixando olhar cada apto vago e escolher o que me agradava, e me reembolsou todos os móveis a partir das notas fiscais, considerando o frete de cada item. Consegui comprar todos os móveis de novo, e nessa primeira semana de Fevereiro a maioria deles já chegou em casa.
Durante todos esses meses, eu consegui equilibrar todo o caos que eu vinha vivendo com as atribulações do trabalho, e só nessa terceira mudança eu pedi a minha coordenadora que eu pudesse trabalhar em home office pra conseguir receber os móveis e colocar as coisas em ordem. A maior parte das minhas roupas está na casa da minha mãe, que lava um pouco toda semana, e eu higienizei com álcool, vinagre, detergente e bicarbonato absolutamente todos os meus pertences pessoais, sem exceção - caneta por caneta, folha por folha, esmalte por esmalte, dentre tantos outros que compõe a minha vida no meu espaço físico. A única coisa na qual eu encontrei mofo após a mudança foram algumas washi tapes, que estavam vedadas em um saco plástico, e já coloquei todas num novo saco com bicarbonato - se o mofo não secar, infelizmente vou precisar jogá-las fora, mas faz parte.
O único móvel que consegui salvar foi minha cama. Quando comprei, procurei uma cama de viúva, com baú, pensando no armazenamento de alguns objetos - tipo blusas de frio, cama, mesa e banho, essas coisas. Não me atentei na hora ao fato de que comprei um box e um colchão com proteção anti-mofo - e essa acabou sendo a minha salvação, no fim das contas, pois até os pezinhos de madeira do box da cama foram tomados pelo fungo alienígena que comeu todo o meu antigo apartamento. Acabei gostando da altura do box sem os pés, e coloquei aqueles adesivos de feltro pra poder mover a cama sem danificar a ela ou ao chão. Fica a dica: comprem camas e colchões com proteção anti-mofo, elas realmente funcionam. Por fim, o apartamento de cima é mais ventilado, e percebo que mesmo a umidade do banheiro seca super rápido, diferente do anterior. Somado a isso, fiz amizade com um vizinho, e ele comentou comigo que o mofo estava aparecendo também no apartamento dele - que não estava alugado quando o procedimento foi realizado, refutando a tese de que meus móveis haviam sido infectados. A última informação que tenho é que já alugaram o apto para uma nova pessoa, com todos os meus móveis mofados dentro dele - só espero que ele não retorne uma terceira vez, pois ninguém merece uma situação dessas, né.
Pois bem: pra quem ficou se perguntando sobre meu sumiço, era isso que eu estava vivendo enquanto o blog ficou às moscas. Espero que agora eu consiga enfim descansar nesse 2023, que me obrigou a realizar uma senhora faxina de ano novo. Ainda sinto um cheirinho de vinagre pela casa, a pele das minhas mãozinhas foi com deus, mas enfim posso dormir tranquila - embora venha tendo pesadelos constantes com mofo, umidade e até inundações, risos. Que 2023 seja um pouco mais gentil comigo, porque depois desse rolê eu legitimamente mereço, viu?
Um abraço pra quem leu até aqui, e até a próxima!

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Written by Shana | 5 de fevereiro de 2023 | 3 Comentários | link to this post



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