ATENÇÃO: o post abaixo contém spoilers de Gundam SEED, Gundam SEED Destiny e Gundam SEED Freedom. Além de muito fangirlism

Talvez eu já tenha contado essa história aqui antes - e se contei, eu não me lembro. Mas
lá em meados de 2003 eu tinha um grupo específico de amigos - os 3 tinham blogs temáticos de InuYasha, e acabamos nos aproximando em função disso - tempos muy buenos, com muitas tardes falando de blogs, html, animes, jogando RPG no MSN e jogando conversa fora com estranhos no chat do Inu Place (só os bons, estou falando).
Dentre nós 3, apenas uma pessoa tinha photoshop, e fazia alguns layouts personalizados para o blog dela. Eventualmente, começaram a aparecer com frequência designs de uma personagem loira, de cabelo curto, que minha amiga descrevia como bem
badass. Na época eu fiquei bem curiosa, porque todo mundo só falava em Full Moon wo Sagashite e Naruto, então era bem interessante ver um anime diferente aparecendo. Não me lembro muito dela falando do anime em si, mas lembro que tinha um casal que ela gostava muito. Na época, no entanto, eu usava o computador do meu pai, e ele não me deixava instalar programas nem baixar coisas aleatórias - e em tempos em que as pessoas só disponibilizavam anime em rmvb (
é minha gente, primórdios da internet), não era como se eu conseguisse assistir de qualquer forma. Sendo assim, sempre associei as personagens loiras de cabelo curto com essa amiga - a primeira era Kagari, que depois descobrimos que na verdade era
Cagalli, e a outra a Stellar Loussier. Que na época eram meio que tudo a mesma coisa pra mim (me perdoa Hisashi Hirai, mas
não vou estar podendo te defender dessa vez).
Perdi contato com os dois amigos, mas lá por
2005 mais ou menos apareceu uma novidade na internet:
um site chamado YouTube. Na época quase ninguém mexia nele, mas eu rapidamente percebi que tinham muitos AMVs - Anime Music Videos - por lá. E eu amava AMVs, passava horas e horas assistindo. Era também a primeira vez que eu podia ver coisas de anime sem baixar pro computador, então era o melhor dos mundos pra mim e comecei a consumir muita coisa; inclusive, foi então que convenci meu pai a por favor, por favor me deixar baixar o Real Player pra assistir um anime que só existia na internet: Shakugan no Shana.
O resto, como vocês sabem, é história.
Depois de Shakugan, obviamente eu assisti muitos animes. Mas foi passeando pelo Youtube que eu comecei a ver vídeos de um casal familiar - aquele, que minha amiga gostava, Kagari e Asuran - que depois descobrimos que chamavam
Cagalli e Athrun, e quando eu comecei a entender de japonês, descobri de onde saiu a confusão dos fãs. Do óbvio, é claro, a pronúncia espetacular dos japoneses (embora Cagalli, reza a lenda, vem de Kagaribi, então vejam bem:
os fãs estavam corretos). Acontece que vendo várias e várias montagens do casal, comecei a ficar interessada com qual seria o contexto - porque queira ou não, embora eu estivesse consumindo vários spoilers, eu não sabia o que exatamente acontecia com as personagens. Foi aí que eu decidi:
vou assistir esse tal de Gundam SEED, porque quero entender como o Athrun e a Cagalli ficam juntos.
Rapaz, se arrependimento matasse...
Mobile Suit Gundam SEED é, como devem imaginar, mais uma série da franquia GUNDAM, mantida pela Sunrise e Bandai. Muito lucrativa, tem um milhão de títulos, bem shounen, é basicamente uma franquia de anime de guerra com robô gigante. Apesar disso, Gundam SEED é tida como a série de maior sucesso e lucro dentre toda a franquia Gundam, e o motivo é muito simples:
os personagens são carismáticos. A roteirista principal, que criou o universo CE (Cosmic Era) é irmã de um conhecido (será?) roteirista de filmes e dramas no Japão, e muitos fãs dizem que pela história criada por ela, fica bem claro que estava na genética da Chiaki Morosawa fezer uma grande novela mexicana.
Os fãs não mentem. Gundam SEED veio como uma espécie de homenagem ao Mobile Suit Gundam original, criado em 1979 por Yoshiyuki Tomino em conjunto com a Sunrise, e tem como pano de fundo uma guerra causada por racismo genético - isso mesmo que você leu -, num universo onde a humanidade descobriu como manipular geneticamente os gametas e fetos humanos para transformá-los em seres mais resistentes a doenças, por exemplo, ou para escolher as características estéticas que vão herdar. Esses humanos geneticamente melhorados foram chamados Coordinators, porque eles iam "coordenar o mundo" (
sim, a gente também achou meio cringe). Tudo muito lindo, até os humanos naturalmente concebidos - autodenominados "Naturais" - decidirem que os coordinators eram uma aberração científica e que deveriam ser exterminados. Típico cenário de histórias de ação.
Mas o que a gente realmente acompanha em Gundam SEED é a jornada do Kira Yamato, um jovem de 16 anos que acaba sendo arrastado para o campo de batalha contra a sua vontade e, como se não bastasse ter que enfrentar os horrores da guerra, ele descobre que um dos principais combatentes do exército inimigo é o seu melhor amigo de infância,
Athrun Zala. Nesse contexto, a história se desenrola de forma dramática, pois o espectador vê de perto o que os horrores da guerra podem causar a um jovem que é jogado no olho do furacão sem piedade. E justamente por ter personagens tão humanos, um character design mais "bonito" e tratar de amizades e romances, Gundam SEED atingiu um público notadamente maior que o seu alvo "nerd fã de robô de gigante":
GSEED acabou alcançando o público feminino, alcançou outras faixas etárias e se tornou o título mais popular de uma franquia milhionária mantida até hoje pela Sunrise. Tanto se prova essa fato que, 20 anos depois, a Sunrise lançou
Gundam SEED Freedom, um filme de aproximadamente 2h para encerrar a série de vez, e na primeira semana ele
já é o filme mais lucrativo de toda a franquia Gundam, arrecadando cerca de 1 bilhão de ienes apenas na primeira semana de exibição.
Mas eu vim aqui falar do meu ship, que eu cheguei a chamar de Titanic por um bom tempo. Sigam-me os bons,
'cause I'm gonna riot

Essa introdução gigantesta ao assunto tem um motivo:
deixar bem claro que AsuCaga foi o motivo pelo qual eu comecei a assistir Gundam SEED. Que é muito bom, diga-se de passagem - decidi rever a série após o anúncio do filme, e até o momento o plot segue interessante, como eu achei lá com meus, sei lá, 13 ou 14 anos. A trilha sonora é boa (mas bom, Yuki Kajiura, Sunrise, podia não ser excelente?), a animação é boa pra época - embora o character design seja bem inconsistente, ao ponto de várias cenas serem totalmente redesenhadas na versão HD Remaster que saiu em 2012 -, não tem muito defeito em GSEED.
Mas o meu casal é a cereja do bolo.
Uma piada muito frequente no fandom é o quanto AsuCaga é o casal mais bem-desenvolvido, embora os principais devessem ser Kira e Lacus, e como o Athrun tem "energia de protagonista" - mas essa piada foi confirmada 100% com a parceria recente que a Sunrise fez com a Sanrio pra divulgar o filme, e sabem quem fez par com a Hello Kitty? Ele mesmo,
o melhor piloto de mobile suit que você conhece, o inventor dos robozinhos redondos insuportáveis, Athrun Zala.
Caham, foco no conteúdo.
AsuCaga de fato é um ship melhor desenvolvido, embora por mais que eu ame o casal, não sei se diria que é o melhor - nós temos Murrue x Mwu, embora num contexto mais maduro, já que eles são os adultos da série e são personagens secundários. Mas em 50 episódios, apesar de terem bem menos tempo de tela do que eu gostaria, AsuCaga é um ship bom, que foge do óbvio e funciona, e a série termina num tom bem positivo, com um episódio extra pra concluir tudo bonitinho. Podia ter parado ali e ia dar muito certo.
Aí a Sunrise lançou Gundam SEED Destiny na sequência, e ficamos todos em êxtase com mais 50 episódios de GSDEED! Melhor dos mundos, certo???
Certo????

Pra resumir muito a história,
GSEED Destiny é a pior continuição da história dos animes. Além da série ter perdido muito da sua relevância, foi muito criticada e gerou uma série de consequências negativas - segundo as fofocas da internet, Chiaki Morosawa já estava com a saúde debilitada durante a produção da segunda temporada, ao ponto de que os roteiros eram entregues dias antes do prazo para produzir os episódios, e a equipe de animação teria a orientação de "reciclar o máximo de cenas possível" na animação. A situação chega ao ponto de vermos uma mesma cena ou animação
menos de 5 minutos depois de ela ter passado, sem falar nos inúmeros flashbacks que acontecem na própria série, que não servem muito como recurso de enredo e sim pra encher linguiça. Outra perda muito triste foi o fato de a dubladora original da Cagalli não ter participado do filme de 2024, e muitos teorizam que o motivo seja o quão
tensionada ficou a relação entre toda a equipe.
Tirando os problemas de produção,
Destiny conseguiu destruir tudo o que GSEED construiu. Os personagens começam a ficar descaracterizados, o real protagonista da série (que era o Shinn Asuka) acaba ofuscado pelo retorno do casting da série anterior, existem muitos furos de roteiro e problemas de storytelling e, o pior:
meu casal foi separado, sem mais nem menos.
Meu casal. Foi. Separado. Sem mais nem menos.
Meu ship afundou igual o Titanic, basicamente. E em função disso, eu nunca terminei de assistir a segunda temporada. AsuCaga era um casal muito bom, e como se não bastasse terem separado os dois, ambos foram massacrados pelos roteiristas - essa é, inclusive, a tese do fandom para o porquê da Naomi Shindou ter uma rusga com a série, pois a personagem dela foi totalmente destruída ao longo da animação, chegando a ficar sem falas nos episódios finais (
off-topic: inclusive, um dos rumores que parecem ter sido inventados pelo fandom, é que ela teria uma relação muito próxima com o diretor, Mitsuo Fukuda, que futuramente se casaria com a principal roteirista, Chiaki Morosawa. Tudo fofoca de internet, até onde se sabe). Foi duro de ver como uma personagem que foi peça chave na resolução do conflito da temporada anterior - e que tem poder político na segunda, fornecendo tudo o que os protagonistas precisam pra vencer a guerra - simplesmente...
some.
Minha decepção foi tamanha que eu não conseguia mais consumir nada da série. Fiquei muito tempo sem ver nada de Gundam SEED, até guardei os figures que eu tinha porque me entristecia só de olhar. Athrun e Cagalli são, respectivamente, meus personagens favoritos na série, e foi dolorido vê-los tomando decisões absurdas e fazendo coisas aleatórias, enquanto Kira Jesus Yamato só crescia meio do nada. O roteiro foi um fracasso, e os fãs japoneses fizeram questão de deixar muito claro seu descontentamento: não podia existir uma enquete, um fórum, um evento de Gundam, que os fãs estavam lá marcando presença e lembrando a Sunrise que
ninguém ia aceitar o naufrágio do ship calado.
Em 2006, foi anunciado um filme para encerrar a série SEED. A série contou também com resumos em formato de longa-metragem, mangás e light novels. Em 2010, Gundam 00 acabou ganhando um filme no lugar, pois a produção de GSEED não andava. Em 2016, Chiaki Morosawa faleceu vítima de um câncer, e o fandom enterrou de vez todas as esperanças de ver uma continuidade da estória. Em 2019, Takanori Nishikawa - popularmente conhecido como T.M. Revolution - chegou a falar que o filme "estava em produção" num evento, mas sem detalhes. A essa altura,
o filme de Gundam Seed já estava virando um delírio coletivo, e ninguém mais tinha esperança de vê-lo acontecer.
Turns out que, certa noite, eu estou passeando pelo AO3 e me pergunto: caraca, será que tem fanfic de Gundam SEED? Uma coisa levou a outra e, de repente, eu me deparo com uma notícia:
Gundam SEED Freedom estreia em 26 de Janeiro de 2024.
SERIA ESSA MINHA FAÍSCA DE ESPERANÇA?

Cacei tudo o que vocês podiam imaginar sobre isso. Li vários artigos antigos explicando todos os problemas de produção, os rumores, análises dos tweets do diretor durante a exibição da versão HD Remaster em 2012. Literalmente o que ainda existia de Gundam SEED na internet, eu encontrei. E aí ficou a tensão:
o que ia acontecer com o meu ship? Será que valia a pena voltar para o universo de GSEED?
Alguns artigos e fanfics acalentaram um tiquinho meu coração, e me deram vontade de voltar para o universo da CE. Fiquei me perguntando se eu ainda iria gostar de tudo e se veria as situações e personagens com outros olhos, agora que tenho mais que o dobro da idade de quando assisti pela primeira vez. Também fiquei me perguntando se eu me lembrava da história o suficiente pra conseguir acompanhar o filme, e decidi que, bom, ao menos um encerramento eu precisava. AsuCaga é um ship que termina de uma forma meio aberta, sem um ponto final muito claro, estranhamente: o que teve de objetivo e nítido no desenvolvimento deles ao longo da primeira parte, na segunda virou um
Rio Pinheiros de tão turvo. Mesmo com versões remasterizadas, episódios finais extras, novas animações das músicas da série, novas artes dos personagens e uma série de fãs dizendo que "o Fukuda garantiu que Athrun e Cagalli ficam juntos no final", nada deixava isso óbvio e claro no anime, nem mesmo o mangá oficial focado no Athrun (Gundam SEED Destiny - the Edge). O que a gente sabia era que
o Athrun ainda gostava da Cagalli e isso não mudou a série inteira, mas ninguém sabia se ela estava disposta a perdoar as cagadas dele - ou pior, se na atual conjuntura que ficou a CE pós-segunda guerra, se existia chance de eles ficarem juntos, ou se eles sequer
podiam ficar juntos.
O ANEL VOLTOU GALERA É ISSO AÍ

Com isso, no dia 26 de Janeiro, às 5h da matina, eu já estava no reddit caçando toda e qualquer informação sobre o filme. Muitas cenas vazadas de gundams e batalhas, mas demorei um bom tempo pra encontrar o que eu queria. Dentre muitas interpretações erradas vindas das traduções corridas de japonês e chinês, enfim,
o ship deu certo. Embora com pouco tempo de tela e muito menos do que o fandom merecia, enfim ficou objetivo o fato de que
AsuCaga não afundou completamente - os dois, além de estarem lindos no filme, dão a entender que estão seguindo no caminho que a gente queria.

Além das cenas fofas do filme, SEED Freedom também entregou vários brindes na primeira semana de exibição, dentre eles dois contos escritos por Liu Goto, responsável pelas light novels de Gundam SEED e também pelo roteiro do longa-metragem. Um deles é dedicado à nova personagem do filme, mas o outro, meus caros leitores, é pra eles:
o melhor ship que você conhece, Athrun e Cagalli. Embora eu ainda não tenha tido a oportunidade de ler o conto na íntegra, já encontrei um resumo nas profundezas da internet, e posso dizer que (de novo)
poderia ser melhor, mas fiquei feliz de saber que
meu casal segue dentro do mundo das possibilidades. Agora a Sunrise podia lançar mais um filme, um OVA, alguma coisa que me deixasse totalmente feliz, porque eles deviam isso pra nós, né non? Nós fãs que
esperamos quase 20 anos pra ver o melhor casal de Gundam SEED ressurgir das profundezas do oceano, e tal.
Mas tudo bem. Por hoje eu vou me contentar com a melhor notícia do ano até agora:
meu ship não afundou, AsuCaga pra sempre!
Agora vocês leitores que lutem com a quantidade de fangirlism que eu vou enfiar nesse blog, porque mesmo com migalhas eu estou em êxtase. Imagina a hora que eu assitir esse filme na íntegra??? Ninguém me segura mais.
Voltamos a qualquer momento com a programação normal~
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