Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice (BR)
Ano: 2024
Direção: Tim Burton
Duração: 1h44min
Eu assisti Beetlejuice depois de velha, quando ainda morava com minha mãe. Conhecia a cena icônica, mas não sabia nada da história - e acabou sendo uma experiência divertida, porque minha mãe não lembrava de nada do filme e fomos (re)descobrindo o plot juntas. Tenho uma amiga que ama o longa e estava muito empenhada em me fazer assistir o musical, então eu estava "no hype" com Beetlejuice quando soube que sairia uma continuação depois de 36 anos - fiquei, obviamente, muito empolgada com isso também.
Com minhas férias na primeira semana de Outubro, decidi que precisava começar o mês das bruxas em grande estilo, e fui assistir o filme com minha mãe no cinema mesmo (o que achei muito chique, porque embora eu tenha acesso fácil, não é uma experiência que eu costumo buscar ativamente. Passo muita raiva assistindo filmes coletivamente).
Confesso que fui empolgada, mas meio que esperando nada. Não fazia ideia de como iriam continuar a história do primeiro filme - porque eu sentia que ela teve começo, meio e fim bem adequados e não tinha mais o que acrescentar ali -, e fui positivamente surpreendida pela experiência. Apesar de uma continuação direta do filme de 1988, Beetlejuice Beetlejuice não ignorou a passagem do tempo, e conseguiu criar um roteiro envolvente sem dar aquela impressão de "fizemos uma continuação pra lucrar em cima do hype". Talvez esperar 36 anos tenha sido a melhor escolha, afinal.
Em Beetlejuice Beetlejuice, acompanhamos Lydia Deetz (Winona Ryder) já adulta, vivendo a vida como subcelebridade, enquanto sua vida pessoal parece envolvida pelo caos - especialmente a relação com sua filha adolescente, Astrid (Jenna Ortega). As duas se reúnem com Delia Deetz (Catherine O'Hara) na antiga casa em Winter River após uma tragédia, onde uma série de eventos inesperados acabam levando Lydia a precisar da ajuda de quem ela menos gostaria: o excêntrico fantasma Betelgeuse.
É muito difícil avaliar o filme sem dar spoilers, mas acho que posso fazer algumas considerações. A primeira e mais importante delas é que Beetlejuice é um filme bobo, e sua continuação é igualmente boba. A experiência é fantástica se você se propor a assistir o longa-metragem sem levá-lo a sério - é uma comédia de terror, cheia de piadas bobinhas e sem criar expectativas muito grandiosas. Nesse sentido, Burton conseguiu reproduzir a essência do primeiro filme muito bem, pois eu tive muito a sensação de estar voltando a um universo que já tinha visitado, e não se assistir uma produção nova com 36 anos de distância. Por outro lado, se você está procurando um filme com um plot bem-feito e coeso, você vai se frustrar bastante - mas, de novo, não acho que essa seja a proposta de Beetlejuice Beetlejuice: a proposta é dar risada.
Além disso, saber algumas informações da "vida real" tornam a trama muito mais divertida. A primeira delas é o fato de que o ator que deu vida a Charles Deetz foi preso em 2003 por posse de pornografia infantil, e o novo longa trabalha maravilhosamente essa questão: a sacada que a produção desse filme teve pra lidar com isso foi absolutamente genial, mas perde a graça se eu der os detalhes pra vocês. Assistam e se surpreendam (e riam muito, eu ri o filme todo com isso). Outro ponto que achei relevante saber é que Tim Burton e Monica Bellucci são um casal na vida real, e fiquei com a sensação de que ele mais uma vez seguiu no seu fetiche de enfiar suas musas em seus filmes; a personagem da Monica é bem dispensável, embora a primeira cena dela seja icônica, mas no final achei que o plot dela seria facilmente descartável. Mas, bem, suponho que me surpreendeu menos ao saber que ela é a namorada do diretor e tal.
Acho que os pontos altos do filme são a trilha sonora, que ressuscita vários clássicos como "Tragedy" do BeeGees e "MacArthur Park" do Richard Harris, além da releitura de "Day-O", que não podia faltar, bem como o uso de vários tipos de mídia para a produção de algumas cenas - temos animações que quase parecem feitas em stop-motion, temos efeitos práticos que dão vida ao clima cômico da produção, e efeitos especiais mais modernos, além do clima sombrio da caracterização - especialmente do mundo dos mortos, que me levou muito para o mundo de "A Noiva Cadáver" em função das cores e luzes empregadas na produção dessas cenas (quem assistir aos dois filmes definitivamente vai entender o que quero dizer). Em suma: Beetlejuice Beetlejuice é um bom filme, e especialmente uma boa continuação. Vale muito a pena assistir principalmente se você se divertiu com o longa de 1988, e mais ainda se quiser aproveitar para entrar no clima do Halloween de forma bem descontraída. O importante é não esperar um filme sério ou com um enredo digno de Oscar, mas apreciar a obra pelo que ela é: uma história boba e divertida pra quem gosta se diverte com um humor mais macabro.