Em 2014 eu comecei essa 'super' ideia de 'super' resenhar coisas - a 1ª foi essa aqui, de Itazura na Kiss. Nos anos seguintes eu me dediquei bastante nessa coisa de resenhar o que eu consumia, e para a minha surpresa tem muitas 'super resenhas' aqui no Hishoku - o objetivo era falar sobre todas as produções de uma mesma obra, e logo depois de ItaKiss eu comecei a escrever sobre outro dos meus amores: Ao Haru Ride. Eu já falei do mangá aqui, mas achei que um dos meus títulos preferidos merecia uma resenha mais completa - o problema foi levar quase 10 fucking anos pra terminar mesmo. Aoharaido já não está tão em alta como quando comecei a escrever essa resenha (vulgo 2014/2015), mas o texto estava já tão completo que achei um desperdício não postar.
Então é isso, vocês vão ler um post com 10 anos de atraso entre o início e a finalização dele, tenham isso em mente, hahaha!
Na época, eu estava bem animada com o sucesso estrondoso de Aoharaido - foi tamanho que chegaram a produzir um Live Action de Strobe Edge, uma outra obra mais antiga da mesma autora (da qual eu também falei aqui), e o mangá foi licenciado no Brasil pela Panini (e sim, eu tenho todos os volumes com aquela aquarela maaaravilhosa na lombada enfeitando minha prateleira). Disclaimer necessário: eu posso ter envelhecido 10 anos, mas seguirei defendendo meus personagens dramáticos até o fim dos tempos. Sigam-me os bons~
Yoshioka Futaba é uma garota meiga e bonita e, por essa razão, foi isolada pelas colegas durante o fundamental. Como se não bastasse, o seu primeiro amor, além de não florescer, sequer chegou a alcançar seu alvo, Tanaka-kun. Agora uma estudante do colegial, Futaba decide mudar sua história "resetando" sua imagem, sendo o mais irreverente possível para evitar que suas amigas, novamente, tenham ciúmes dela e a excluam do grupo. Contudo, seus planos vão por água abaixo quando ela conhece Mabuchi, um garoto sério e consideravelmente insensível que, de alguma forma, a faz lembrar do doce e gentil Tanaka-kun.
O Mangá
O que dizer de Aoharaido? Quando comecei a leitura, em 2012, tinham 10 capítulos publicados, mas foi o suficiente pra me ganhar. Já iniciei a leitura sabendo, lá no fundo, que iria me apaixonar e sofrer esperando a continuação mês a mês - sério gente, não sei porquê eu fazia essas coisas comigo mesma. De qualquer forma, Ao Haru Ride começou como um shoujo qualquer, e mal sabia eu o chute no estômago que eu levaria com todos os feels que vieram depois desse começo 'inocente'.
O título já dá uma dica sobre os caminhos que a história vai tomar - Ao Haru Ride se traduz "Passeio", "Carona" ou "Percurso" da Primavera Azul - uma expressão que em japonês pode aludir a "anos inexperientes" ou "recomeço" (fresh start). E é basicamente esse o enredo, pois acompanhamos a jornada pela inexperiência adolescente e os erros cometidos nesse trajeto. A proposta da Sakisaka-sama é justamente falar da juventude como uma fase de cometer erros e aprender com eles, e acho que de uma forma bem bonita ela nos ensina sobre nos perdoar pelas más decisões que tomamos quando ainda somos imaturos e não conhecemos tudo o que temos pra conhecer.
Muita gente se queixa sobre as personagens tomarem muitas decisões estúpidas ao longo da série - em especial o Kou -, mas esse é justamente o objetivo do mangá. Com um ritmo adequado, se esticando onde precisa e aprofundando nos momentos corretos, Ao Haru Ride fala sobre amor, sobre respeito, sobre limites, autoconhecimento e, acima de tudo, sobre aprendizado. É um mangá sobre crescer, e ele usa um romance adolescente pra ilustrar essa saga.
O que mais me atrai nos mangás da Sakisaka-sama é a forma como ela se utiliza de cenas delicadas e humanas para expressar algumas coisas. É comum você ter vários painéis sem falas nos mangás dela, onde as personagens só trocam toques e olhares e muita coisa acontece ali. Li todas as obras traduzidas que consegui encontrar, mas foi em Ao haru Ride que ela se consolidou como uma das minhas mangakás preferidas, e acho linda principalmente a forma como ela constrói a jornada do Kou, e sobre como ela passa por temas como conflitos familiares e enfrentamento do luto de forma tão bonita. Pensando que é uma obra focada no público adolescente, acho compreensível que muita gente não entenda as escolhas do personanagem e o julgue por "fazer a Futaba sofrer", mas é muito importante entrar nesse mangá ciente de que ele é muito mais do que um romance. Pra mim, Aoharaido cumpre totalmente seu propósito, passando pela questão dos erros, do aprendizado e da importância em poder contar com pessoas que te amam e apoiam pra se tornar sua melhor versão possível.
E claro: dá tudo certo no final, então por mais que a gente passe raiva, podem ler sem medo!
O Anime: meus sonhos realizados!
Em 2014, Ao Haru Ride recebeu sua adaptação para anime - e foi a primeira vez que eu recebi um anúncio assim de uma série que eu estava acompanhando desde o começo, o que acabou tornando toda a experiência bem mais emocionante do que deveria ser, hahaha! A animação ficou por conta do estúdio Production I.G, conhecido por obras de peso como Shingeki no Kyojin, Ghost in the Shell, Psycho-Pass e até Haikyuu!!, então já é de se esperar uma produção de bastante qualidade.
Apesar disso, preciso dizer que o anime de Ao Haru Ride não tem nada de super excepcional - ele é uma boa adaptação do mangá, segue bem o roteiro e não traz alterações muito esdrúxulas. Gosto bastante do casting de dubladores, e a trilha sonora é gostosa - de novo, nada de excepcional, mas acho que é algo bem similar ao que todos os animes da época estavam fazendo, bem como outros shoujos famosos como Kimi ni Todoke e Lovely Complex. Minha música favorita é a OST "I Will", que eu acho bem emocionante por algum motivo.
A animação em si buscou muito representar bem o mangá - a abertura do anime pega cenas de vários scans e capas dos capítulos, e pra quem lia Ao Haru Ride antes do anime sair, dá pra ver vários elementos da série bem representados ali. O design dos personagens é bem próximo do original, mas assim como todo anime, ele tira um pouco da delicadeza do traço e das cores da Sakisaka-sama - bom, a maior parte dos scans dela parece ser colorido com aquarela, então obviamente o anime veio com um traço mais 'rústico' se comparado a isso. Num geral, o anime entrega tudo o que propõe, e acho que é uma adaptação de respeito, embora tenho a sensação de que não 'viralizou' tanto quanto outros shoujos parecidos.
A única falta da animação foi não ter uma segunda temporada - coisa que muita gente pede até hoje, porque ele de fato acaba um pouco do nada. O mangá estava em publicação na época - mas o anime saiu em Julho de 2014 e o mangá finalizou em fevereiro de 2015, então a única justificativa pra não termos essa segunda temporada deve ser, justamente, ele não ter tido o sucesso comercial que se esperava. Ficam aí os fãs enlutados da segunda temporada que nunca foi.
Live-Action: Ao Haru Ride nas telonas!
Quando foi anunciado o filme de Ao Haru Ride, eu tive sentimentos mistos com a notícia. Isso porque num geral eu sempre fico com um pé atrás com live actions - que nunca adaptam a historia direito - e, logo que o elenco saiu, eu dei uma duvidada ainda maior quanto ao resultado dessa empreitada (muito porque eu não conseguia ver as personagens nos atores, e não porque eu duvidava da capacidade de algum deles). Mas foi só sair o trailer e eu abandonei todas as minhas dúvidas ♥
O filme consegue a proeza de percorrer o mangá quase inteiro, de maneira bem sucinta, simples e linear. O lado ruim disso é que não dá pra colocar 40 capítulos em 2h sem fazer cortes - e muita, muita coisa mesmo foi cortada. Uma coisa que eu amo na Sakisaka é justamente o fato de ela desenvolver a história aos poucos, e tudo parece muito natural, e isso demanda muitos capítulos, muitas cenas, muitos diálogos que podiam ser - e foram - resolvidos em coisa de minutos e algumas frases no longa metragem. Se eu achei ruim? Não exatamente.
Quando uma história é adaptada, é preciso sempre ter em mente que: 1 - ela não foi feita apenas para os fãs do enredo original, então quem assiste a um anime ou filme, precisa entender a historia sem ter lido o livro ou mangá de onde ela vem; 2 - para que o filme tenha um tempo assistível (ou seja: não mais que 2h), cortes são necessários. Pra que a historia não perca o sentido, adaptações no enredo são necessárias, coisa que foi muito bem feita no filme, sem comprometer a história original. Isso me deixou muito satisfeita, porque embora muita coisa tenha mudado - eu senti falta de tantas das minhas cenas favoritas! - todas as mudanças foram aceitáveis e deixaram o filme a coisa mais linda desse mundo ♥
Quanto à parte mais técnica, a produção teve um investimento de peso, a trilha sonora estava gostosa - contando com Ikimono Gakari, como não amar? - e gente, a fotografia desse filme me levou pro universo de Ao Haru Ride de formas que eu nem imaginava! Me senti relendo o mangá em cores, de verdade! Quanto aos atores, o elenco conta com um casting muito bom - tivemos a Tsubasa Honda como Futaba - e além de fisicamente parecida, ela foi tão lindinha que eu me apaixonei - e o Masahiro Higashide como Kou - e embora muita gente tenha criticado (inclusive eu), ele encarnou muito bem o personagem, desde o tom de voz meio entediado ao jeito mais contido que o Kou tem de lidar com as coisas. Num geral, senti que os demais atores também trouxeram os personagens à vida, com exceção ao Yū Koyanagi, que acabou fazendo o Tanaka-sensei parecer mais sério do que ele realmente é. Também preciso aplaudir a atuação do Yudai Chiba, porque esse guri fez com que eu até gostasse do Kikuchi Touma nesse filme - e eu não suporto, não suporto esse personagem. Taí um feito incrível desse longa.
Por fim, eu fiquei muito, muito, muito satisfeita com o resultado - e eu estava até com medo de assistir, visto que alguns Live Actions me traumatizaram nessa vida. Mas recomendo a todos: pra quem não conhece, pra conhecer, e pra quem é fã, que pode assistir sem medo porque a adaptação ficou louvável!
Bônus! Um novo live-action em 2023
Entre setembro e novembro de 2023, foi exibida uma nova série (dorama) de Aoharaido, entitulada Ao-Haru-Ride Season 1 - o que quer dizer que já podemos esperar a segunda temporada. Acabei descobrindo da existência dessa série enquanto editava essa resenha, então não consegui assistir pra avaliar pra vocês - mas acho que mais do que vale a menção, pois essa já é a 3ª adaptação do mangá de Aoharaido, o que deve ser algum indicativo do quão maravilhosa é essa estória. Confesso que, de novo, tenho sentimentos mistos com o casting - não consegui ver muito a carinha da Futaba ou da Yuri nas atrizes escolhidas (Deguchi Natsuki e Riko, respectivamente), mas acho que vale primeiro ver a atuação pra depois decidir se elas entregaram ou não. Já o Kaito, dependendo da caracterização, me traz muito a carinha do Kou, e o Sota Ryosuke ficou um clone do Touma - sendo assim, ficam aí esseas reflexões em mente pra confirmar ou não quando eu assistir. Fica a sugestão pra vocês também, principalmente pra quem é mais dos doramas ou achar o filme corrido demais!
Pra encerrar, sendo bem honesta, acho que até agora essa foi a resenha mais difícil de fazer aqui no Hishoku. Isso porque primeiro: eu levei literalmente 10 anos pra terminar a postagem e já fazia tempos que não revisitava a série, segundo: muito difícil falar de Ao Haru Ride sem tecer elogios tendenciosos, porque é um título muito querido por mim. Foi o primeiro mangá que eu acompanhei desde o começo e por tanto tempo, no qual vi as personagens crescendo e fazendo cagada enquanto eu mesma fazia as mesmas coisas. Gosto muito da mensagem que Aoharaido traz, de que nós cometemos erros e às vezes isso é só parte do nosso crescimento, da nossa vida e da nossa história - e é uma pena que muita gente só olhe pro triângulo amoroso e pros clichês do shoujo em si e perca de vista uma mensagem tão importante. Ao Haru Ride é muito mais que isso, e eu espero de coração ter conseguido ilustrar isso pra vocês de alguma forma ♥ Por hoje eu fico por aqui; espero de alguma forma ter atiçado a curiosidade de vocês, ou pelo menos feito justiça pra falar de uma das minhas séries favoritas! Beijinhos a todes e até a próxima :*