
C.,
Às vezes eu me pergunto se esse era mesmo seu nome. Se as fotos que eu tinha eram do seu verdadeiro rosto, e se as pessoas a quem você me apresentou eram mesmo outras pessoas. Eram tantos segredos, tantas coisas sem explicação, que eu me pego duvidando dos menores detalhes.
Acho bem triste que uma pessoa que significou tanto pra mim por tanto tempo seja hoje um fantasma do qual não consigo me livrar. Que alguém a quem confiei tantos dos meus segredos e intimidades hoje me causa desconfiança até da própria existência. No fim do dia, não tem absolutamente nada sobre você sobre o qual eu possa sentir certeza.
Você importunou meus pensamentos por tantos, tantos anos - e hoje é uma das coisas sobre a qual eu não quero falar sobre com ninguém. Não me sinto à vontade pra falar sobre isso com meus amigos, com minha terapeuta - nem comigo mesma, sendo sincera. Quando seu nome aparece na minha mente, ele é chutado pra fora dela com um revirar de olhos e um suspiro cansado, como quem diz: de novo isso? Que saco.
Foram 8 anos de história jogados fora. Dois deles eu nem queria ter vivido, pra ser honesta. Porque o que mais me incomoda, o que mais mexe com minha cabeça, é pensar que talvez você nem tenha existido. Que esse nem seja seu nome, que seus amigos fossem personagens, que sua história digna de filme fosse, de fato, só mais um roteiro de romance infanto-juvenil. Você era perfeito demais pra ser realidade, sabe? E eu era inocente demais pra perceber isso.
Vez ou outra, algumas pequenas coisas me levam de volta pra esse lugar. Pras memórias, pra época em que eu verdadeiramente acreditava em você. Daí eu me vejo mais uma vez numa busca desenfreada - seu nome, seu endereço, seu rosto, qualquer coisa que eu possa encontrar que confirme alguma das minhas hipóteses. Mas é isso, você desapareceu sem me dar respostas, e a cada ano que se passa eu enterro mais uma dúvida no fundo da minha cabeça.
Quando tempo até você sair de vez de mim?
Com ressentimentos,
B.
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