
Pai,
Não tem um dia em que eu não queira conversar com você de novo, nem que seja só pra ouvir a sua voz. Eu não tenho coragem de revisitar as suas mensagens, porque não quero me dar a ilusão de que você continua existindo em algum lugar - mesmo que exista, é em um lugar onde eu não posso mais te acessar, então não faz diferença pra mim. Essa semana foram 4 anos sem você, e embora a dor de fato vá passando, a saudade é uma companheira permanente na minha vida. Eu queria que você tivesse sido permanente, mas não é assim que a vida funciona e, como você mesmo dizia: a única certeza na vida é a morte. Pena que, pra você, ela chegou cedo demais.
Eu já não sonho com você com a mesma frequência. O último sonho que eu tive com você foi da gente se despedindo, e embora no contexto não fosse nada demais, eu me lembro como se tivesse vivido a tristeza de me separar de você. Doeu muito me separar de você na vida real, e nos meus sonhos dói também, porque eu não queria que você tivesse ido embora. Demorei pra entender que o que me magoava não era a sua doença, as circunstâncias, as culpas que eu carregava, mas sim o fato de que eu não queria te perder. Eu te queria vivo, e o que dói é você ter partido pra sempre.
Eu lembro de você o tempo todo. Uma notícia que eu acho que você gostaria de ter lido, toda a questão política pela qual você era tão engajado, os enfeites de Natal que você comprou e que guardamos até hoje, os pratos que você gostava de comer e até as inovações tecnológicas que eu tenho certeza que você ia adorar. Eu lembro de você sempre que me deparo com algo sobre o qual eu queria conversar contigo. Eu sinto falta das nossas conversas, da sua voz, da sua comida, do seu cheiro de cigarro, da sua presença na minha vida. Eu sinto sua falta, e eu vou sempre sentir sua falta, e magoa olhar para o vazio que você deixou.
Eu queria poder conversar com você de novo, pai. Mas eu entendi que você se foi pra sempre, e que eu preciso seguir vivendo apesar disso. Sei que você segue cuidando de mim - e de todos nós - de alguma forma, seja pela segurança que você deixou pra nós em terra, seja de alguma forma espiritual na qual você nem sempre acreditava. Mas de alguma forma você segue vivo nas minhas lembranças, nos ensinamentos que você deixou e na mulher que eu me tornei. Eu sou grata por tudo o que você me deu, mesmo pelas coisas que você não queria ter dado, mas que me permitiram crescer mais forte. E quando a saudade mais aperta, eu tento pensar no quanto de você eu tenho em mim, e no quanto de você permanece em mim.
Que algum dia, em algum outro lugar, a gente possa se encontrar de novo. Enquanto esse dia não chega, fica aqui esse desejo, e essa saudade de você.
Com carinho,
B.
Marcadores: 30 letters, Carta, desafio