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(01) Para o teu melhor amigo
Querida R.,
Eu guardo até hoje os seus presentes. As caixinhas da Pucca, porque você sabia que eu a adorava; o chaveiro de "baratinha", que nenhuma de nós sabia bem o que era, mas que achamos fofo ainda assim. Guardo as suas cartas, seus cartões de aniversário, e levo comigo muitas boas lembranças da nossa amizade.
Talvez pra você, ou alguém que veja de fora, a gente só tenha se afastado conforme a vida foi passando. Mas a verdade é que eu fui sendo deixada de lado, não é? Eu sempre tentei ser muito compreensiva com a sua falta de tempo, com as suas prioridades - porque afinal, você fez escolhas de carreira bem difíceis, e eu só podia te apoiar como sua melhor amiga.
Mas existia uma outra pessoa, com quem você sempre conseguia manter contato, e que não era eu. Uma amiga que tinha os mesmos gostos, as mesmas piras, e de uma forma muito estranha você sempre conseguia falar mais com ela do que comigo. A princípio é porque você gostava mais de uma rede social que eu não usava tanto, então eu tentei me adaptar a isso, mas não deu certo. Daí era porque estava tudo muito corrido, eu fiquei sem computador, você não tinha tempo. Mas por mais que a vida entrasse no nosso caminho e parecesse nos afastar, essa outra pessoa sempre estava por perto. E eu sei que, até hoje, vocês continuam muito próximas. Parece que no fim das contas a culpada da nossa distância acabou sendo eu, que cansei de me sentir deixada de lado.
Eu sou assim, bem insegura. E talvez você, enquanto minha melhor amiga, devesse saber. E foi depois de a gente ter se afastado que eu decidi que não teria mais "melhores amigos", porque eles sempre se afastavam de mim e eu me sentia idiota. Sempre estava corrido, mas sempre havia tempo e energia pra dedicar a uma pessoa que não era eu. E como diz bem a Pitty, e não sou um bom enfeite de estante. Eu não gosto de sentir que preciso pedir carinho e atenção, quando outras pessoas parecem receber de uma forma muito mais natural e tranquila do que eu.
Nós até tentamos nos reaproximar, né? Mas daí você veio desabafar comigo, como de costume, e eu te dei conselhos (porque sou essa pessoa estúpida as vezes), como de costume, e você me disse algo que, na época, me magoou muito. Porque era algo que eu vinha ouvindo de todo mundo que estava puto comigo por qualquer razão, e eu me senti muito traída. Mas é claro que você não poderia saber. Já não éramos mais tão boas amigas assim, não é? E eu fiz contigo o que fiz com todas as outras pessoas que tentaram usar minha escolha profissional contra mim: não falei mais nada. Se eu não podia mais ter uma opinião ou dar um conselho amigo sem que a minha graduação entrasse no caminho, é porque a pessoa não estava se relacionando comigo de verdade, e sim com o que eu representava na sociedade, na cabeça dela. E, bom. Não é como se você tivesse feito algum esforço também, mas tudo bem. Com isso eu já estava habituada.
Eu espero de coração que você siga com a amiga de quem você realmente gosta, que ela seja tão compreensiva e carinhosa quanto você precisa e merece. Que você tenha se resolvido com sua mãe, que você enfim tenha encontrado seu caminho na sua carreira. Que você esteja mais feliz com quem está perto de você. Mas esperar é tudo o que eu faço, pois no fim, eu nunca fui digna o suficiente de acompanhar sua caminhada.
Apesar disso, com carinho,
B.
Reescrito em 05/10, dessa vez com sinceridade (porque a versão de 02/08 estava azeda com amizades, hahaha!)
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